Então é assim: eu estou na praxe e a gostar daquilo, dentro dos possíveis. A faculdade é anti-praxe, por isso a coisa tem de ser muito moderada e sem grandes folestrias, mas mesmo assim tenho tentado ir a tudo, porque eu gostava mesmo muito de passar na tribuna, em Maio. Não sei bem se isso vai acontecer, porque no fundo, a minha fase de bebedeiras já passou, e eu dou muito mais valor a ficar na cama quentinha a ver um filme do que estar de quatro no meio da rua. Só tenho o sonho de desfilar no cortejo, usar aquele traje piroso e aqueles sapatos que fazem os pés sangrar, e para o ano dizer ser chamada de senhora doutora. E mostrar aqui à família, que sempre me gozou "ah e tal, tu não és menina de praxe!" que sou, sou menina de praxe sim senhora e vou mostrar o orgulho académico a toda a gente!
Mas voltemos ao problema. Quinta-feira é o baptismo dos caloiros, e eu sei muito bem quem quero que seja a minha madrinha. É a doutora mais fofinha que conheci, que me acolheu e se preocupou comigo logo no primeiro dia, quando eu ainda estava a tremer porque na praxe todos pareciam maus e cruéis. Sou péssima a decorar nomes, e dela só reparei nos caracóis. E assim ficou, a doutora dos caracóis, que também teve leucemia em criança e decidiu que ia ser minha amiga.
Só que já não a vejo há três semanas, e vai ser complicado pedir-lhe para ser minha madrinha se não a encontrar.
Céus. Tantos sacrifícios para usar uns sapatos tão horríveis.